sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Maquinando na Oficina do Théâtre Du Soleil

Oi gente, sei que estou em dívida com o Maquinaria, mas pelo menos consegui postar antes do ano acabar. Aí vai: Durante a turnê do grupo francês Théâtre Du Solei tive a honra de ser uma das selecionadas para participar da oficina com Jean-Jacks Lemêtre e gostaria de compartilhar com vocês alguns de seus ensinamentos durante a prática. Quero ressaltar que o grupo escolhido era bem eclético, com experiências variadas (atores, músicos, bailarinos). A oficina foi concebida para artistas com formação variada e níveis diferentes de formação. Mesmo assim, cada exercício continha certa complexidade e profundidade. Imagino que cada participante assimilou a proposta à sua maneira. Para mim foram momentos de lucidez, confirmação, descobertas e aprendizado. Por questões éticas não entrarei em detalhes sobre os exercícios dados e a participação dos alunos. Destacarei algumas questões ressaltadas por ele durante o encontro. Irei direto ao ponto: -Lemêtre iniciou a oficina dizendo que as coisas simples são as mais difíceis de realizar, e para isto é necessário ser preciso, concreto e passar a menor quantidade de informação corporal ( o que Ariane cita como evitar a “tagarelice”); e sempre tomar cuidado para não ser traído pelo próprio corpo. -Ritmo: o ator deve fugir do ritmo binário, o ritmo realista do qual o mundo é regido. O ator deve encontrar um ritmo extra-cotidiano, ímpar, teatral, não-folclórico. Um ritmo diferente do cinema e igual à pulsação do coração (ternário) evita que o ator vá para o psicológico. -Respiração: a maioria dos atores não respira enquanto atua, parece estar sempre em apneia (isto me fez lembrar um dos princípios da biomecânica “É preciso calma na hora de atuar”). -Teatro: o mundo pode ser pequeno ou grande, depende da sua escolha. Resgate coisas que se perderam. -Ator: não imponha ideias, mas proponha saídas. Evitar sempre o pleonasmo. -Música: a música deve se encaixar no ator e não ao contrário. Não se deve prender os atores no tempo da música. Lemêtre diz que seus instrumentos são desafinados e se afinam de acordo às personagens do espetáculo. -Personagem: testar melodicamente uma frase cantada para se buscar a melodia da personagem. -Línguas: o francês é uma língua pobre e só tem 4 variações, mas é rica em sintaxe, o que permite mudar as palavras e o sentido. O português é tão rico que ninguém saberia dizer quantos ritmos tem. Vale a pena refletir, não acham? Eu e Lemêtre durante a oficina:
Beijos, Luciana Fins

segunda-feira, 28 de novembro de 2011


Projeto Teatro de Maquinaria em trânsito pelo Brasil: Oficina de Introdução a Biomecânica.
O projeto Teatro de Maquinaria em trânsito pelo Brasil vai realizar ações de formação em diferentes cidades do país. A proposta nasce com o objetivo de ampliar seu campo de atuação e estabelecer parcerias para projetos com outros grupos e artistas brasileiros. Durante os meses de Dezembro/2011 e Janeiro/2012, os integrantes do coletivo vão levar a São Paulo, Piracicaba, Valinhos, Juiz de Fora, Dourados, Campo Grande, Santa Maria e Rio de Janeiro, seu conhecimento a respeito dos exercícios biomecânicos e registrar este processo de intercâmbio neste site. 
O objetivo da oficina Introdução ao Estudo da Biomecânica é promover a experiência de conhecimento teórico-prático dos exercícios teatrais biomecânicos, com foco na vivência de um de seus exemplos - A Pedra. Sua metodologia de ensino aparece acompanhada de um estudo aprofundado das articulações, da musculatura e do aparato respiratório do corpo do ator. Direcionado também a bailarinos, este sistema de educação específico foi desenvolvido pelo encenador russo Vsevovlod Meyerhold no início do século XX, com o objetivo de formar seus interpretes. Desde então, suas matrizes de estudo servem como referência para importantes grupos teatrais nacionais e internacionais. Há dois anos, os exercícios biomecânicos funcionam como base para o treinamento dos atores ligados ao Teatro de Maquinaria.
Criado em 2009, o Teatro de Maquinaria tem como pressuposto estimular a pesquisa para a criação de ações artísticas no campo do Teatro, do Vídeo e da Intervenção Urbana. Formado por Fabricio Moser, Angela Rechia, Ana Paula Brasil, Luciana Fins, Marcio Antunes e Rodrigo Reinoso, além de outros colaboradores de diferentes regiões do Brasil e do mundo radicados na cidade do Rio de Janeiro, o coletivo tem como uma de suas motivações explorar artesanalmente as maquinarias disponíveis nas linguagens tecnológicas do mundo contemporâneo, utilizando estes meios como ferramentas para a criação artística. Seus estudos relacionam a poética de produção cênica e audiovisual em busca de uma comunicação teatral própria.
Aguardem.

sábado, 24 de setembro de 2011

                Cidade em FotoDrama/Estudos -  14/09/11
       1º Seminário Internacional do Corpo Cênico- UNIRIO








                   
                                                                                                                              Fotos by Vicente Leal

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Teatro de Maquinaria - Cidade em Fotodrama (1º estudo)

 Video: Renata Souza
A rua como palco e seus transeuntes como personagens. A cidade em Fotodrama. Transformar o movimento urbano em experiência artística e ampliar a vivência pública dos Maquinistas são alguns dos objetivos da intervenção proposta pelo Teatro de Maquinaria. Tendo como base a linguagem cênica e cinematográfica, os Maquinistas intervêm na paisagem através da manipulação de enquadramentos sob diferentes tamanhos, jogando de forma artesanal com o espaço e despertando o olhar do espectador para as questões do cotidiano.

Teatro de Maquinaria - As Três Laranjas (estudo)


As Três Laranjas é um projeto de montagem iniciado pelo Teatro de Maquinaria no primeiro semestre de 2011. Com o objetivo de desenvolver uma frente de ações relacionadas à rua, o grupo constrói este espetáculo tendo como referência os elementos estéticos do cinema mudo e o trabalho criativo do ator a partir dos exercícios biomecânicos, formulados pelo russo Vsevovlod Meyerhold no início do século XX. A todo instante é preciso pensar em ganhar o pão de cada dia, três homens e uma aposta, duas mulheres e três laranjas, quem ganha?

domingo, 31 de julho de 2011

Cidade em Fotodrama - 1º Estudo

A rua como palco e seus transeuntes como personagens. A cidade em Fotodrama. Transformar o movimento urbano em experiência artística e ampliar a vivência pública dos Maquinistas são alguns dos objetivos da intervenção proposta pelo Teatro de Maquinaria. Tendo como base a linguagem cênica e cinematográfica, os Maquinistas intervêm na paisagem através da manipulação de enquadramentos sob diferentes tamanhos, jogando de forma artesanal com o espaço e despertando o olhar do espectador para as questões do cotidiano.






fotos: Vicente Leal
Todas as fotos em nosso Facebook: Teatro de Maquinaria


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Oficinas

Os artistas ligados ao Teatro de Maquinaria também atuam na formação e capacitação profissional. Para tanto, oferecem oficinas e vivências a partir do processo de pesquisa realizado junto ao grupo. Mais detalhes em:  OFICINAS

quinta-feira, 14 de julho de 2011

AS TRÊS LARANJAS

As Três Laranjas é um projeto de montagem iniciado pelo Teatro de Maquinaria no primeiro semestre de 2011. Com o objetivo de desenvolver uma frente de ações relacionadas à rua, o grupo constrói este espetáculo tendo como referência os elementos estéticos do cinema mudo e o trabalho criativo do ator a partir dos exercícios biomecânicos, formulados pelo russo Vsevovlod Meyerhold no início do século XX. A todo instante é preciso pensar em ganhar o pão de cada dia, três homens e uma aposta, duas mulheres e três laranjas, quem ganha?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Falando um pouco sobre a voz/palavra/emissão - por Rodrigo Reinoso

"(...) Para cada situação, e para a sua interpretação pela voz, pode-se tentar encontrar a ressonância apropriada. Isto se aplica ao treinamento, mas não ao preparo do papel. Os exercícios e o trabalho criativo não devem se misturar. (...) Meu princípio básico é o seguinte: não pense no instrumento vocal, não pense nas palavras, mas reaja - reaja com o corpo. O corpo é o primeiro vibrador, a primeira caixa de ressonância"1

Durante esse processo ainda não entramos na questão da voz ou a busca pela a palavra expressiva. Queria nesse texto levantar questões, não exatamente sobre o trabalho técnico, mas sobre o uso e a escolha estética que muitas vezes ele é inserido. Posso dizer que a preocupação maior é no tratamento da palavra e nas formas de emissão do som. Vendo geralmente os trabalhos que privilegiam a palavra ou o corpo, me parece que talvez uma pesquisa conjugada seja incoerente. Às vezes observando esses tenho a impressão de que os dois são incompatíveis, não são coabitáveis. O que se pode observar é que a força corporal emudece a voz e a força vocal paralisa o corpo, em muito das vezes. Por estar nesse momento pensando o corpo é que acho que podemos pensar a voz e dar a ela um treinamento com que voz e corpo estejam integrados, que essa barreira que imaginamos ter seja transpassada, digo imaginamos porque obviamente sabemos que voz também é corpo e como corpo também pode construir imagens no espaço. A partir dessas reflexões sobre esse trabalho conjugado que imagino que além do aquecimento habitual e técnico, devemos incorporar também aos treinos vocais um aquecimento que amplifique as possibilidades imaginativas, onde a palavra extrapole o limite do significado comum. Pensando no trabalho dos exercícios plástico, sugeridos por Grotowski, podemos propor um diálogo de respostas entre corpo, voz e imaginação, onde essa voz seja a resposta da construção desse corpo e deixando que esse diálogo produza associações, construa imagens sonoras. Fazendo-nos não ater somente o ato de falar. Precisamos aprender fazer com que leiam nossas emissões, com que o som que saem de nossas bocas não seja meras ilustrações do que é visto, lógico pensando a partir da pesquisa que nós estamos buscando. Já que o corpo é força, a voz deveria no trabalho corporal ser a amplificação dessa força. Outro trabalho que acho que nos traria muito material é a pesquisa que Laban, em seu livro “Domínio do Movimento”, vai propor ao corpo. Um teórico que nada cita sobre a palavra/voz, mas seu trabalho com o corpo serve de inspiração para busca dessa palavra/voz expressiva, para criação de formas sonoras, da busca do preenchimento do espaço com essa matéria e de não só desenhar o espaço com o corpo, mas também com a voz. Penso em formas de trazer seus estudos sobre a qualidade de movimento do corpo para a qualidade de movimento da voz. Vendo sobre esses teóricos e também das nossas experiências com o trabalho voltado para voz podemos pensar em duas visões sobre a imagem da palavra. A primeira sobre o significado e força que tem cada palavra, em seu significado mais simples, e a outra é a imagem que queremos provocar através de determinada forma de emissão do som/palavra. Nesse segundo me permito associar ao trabalho de Artaud, que toca em poéticas que me atraem em Teatro e a peste e Teatro da Crueldade, a palavra/voz é algo que deveria contaminar ao publico, ou seja, transpassar os limites do ouvido. O Publico deveria se estremecer e se contagiar ao ser atingido pelas ondas sonoras. Sendo uma pesquisa delicada, pois temos que entender esse órgão e saber quais os limites dele, devemos nos dedicar aos treinos dessa questão a cada dia. Tentar não sobrecarregá-lo e nem danificá-lo. Ao mesmo tempo se entregar à pesquisa, sem medo de arriscar e não deixando com que o trabalho fique pela metade. Duas palavras Risco e atenção.

1 GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um Teatro Pobre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. P.138

domingo, 5 de junho de 2011



"A partitura é como um vaso de vidro dentro do qual uma vela queima. O vidro é sólido, está ali, podemos confiar nele. Retém e guia a chama. Mas não é a chama. A chama é meu processo interno de todas as noites. A chama é o que iluminaa partitura, o que o espectador vê através da partitura. A chama é viva. Assim como a chama no vidro, a partitura se move, palpita, cresce, diminui, está quase por apagar-se e imprevistamente readquire esplendor, responde a cada hálito de vento, assim a minha vida interna varia a cada noite, de momento a momento."  Ryszard Cieslak

domingo, 22 de maio de 2011

Analise do exercício do Meyerhold - por Márcio Antunes

Desde que iniciamos os exercícios de biomecânica do Meyerhold, comecei analisar a complexidade dos exercícios a partir da minha experiência em exercícios corporais como ator e do conhecimento do que para mim foi passado por biomecânica a partir da visão da graduação em fisioterapia.
Segundo os estudos da biomecânica de Meyerhold, sua principal intenção era que o ator adquirisse a destreza essencial para os movimentos cênicos. Fui procurar o significado exato de destreza e encontrei “A destreza pode ser qualificada quanto à proporcionalidade física ou não, tendo em conta que ainda temos no mesmo grupo, a velocidade, a força, a resistência. Destreza também é uma maneira de dizer habilidade, agilidade, aptidão. O termo destreza está relacionado também a direito, que fica do lado direito, ou seja, o destro.” Resolvi discutir esses 3 temas a partir do exercício da “PEDRA” do Meyerhold, quem não conhecer e tiver interesse em conhecer no blog da maquinaria tem os vídeos.
Como velocidade o exercício trabalha com ritmos em tempos (rápido, moderado e devagar) na execução dos movimentos propostos. Esse ritmo ativa uma consciência muscular através de duas formas:

- Primeira: Ao graduar o movimento como, por exemplo, controlar o tempo que desce o antebraço, essa graduação exige uma dose certa de contração muscular, quando se percebe que se passar dessa dose vai desestabilizar o braço que já esta na posição correta sustentada pelo ombro, isso tudo ativa uma consciência que te leva a perceber que é preciso movimentar a articulação do cotovelo contraindo os músculos inseridos nessa articulação e manter em uma contração estável os músculos inseridos na articulação do ombro.

- Segunda: Quando precisamos reproduzi-lo de uma forma bem desenhada, pois quase todas as posições exigidas trazem um desequilíbrio de cabeça, esse desequilíbrio causa uma alteração na percepção corporal no espaço, pois estamos adaptados a nos equilibrar com a cabeça na posição bípede em relação a força gravitacional (perceba quando se vira um bebe na horizontal, a primeira reação dele será posicionar sua cabeça o mais próximo possível do ser humano em pé). O exercício da pedra te leva então a dominar seu corpo graduando as contrações musculares exatas em outros eixos de organização estrutural corporal como as posições em que se esta com a coluna flexionada e a cabeça apontando para o chão.
Como força vejo que os exercícios do meyerhold não trabalha ganho constante de hipertrofia, os corpos dos atores quando se observa os registros da época nunca são corpos fortes, mas são corpos de musculaturas bem definidas, a hipertrofia acontece pelo peso do corpo, mas quando a musculatura se adapta aquele peso ela para de hipertrofiar e mantem uma força suficiente apenas para seu próprio gasto energético. O ganho de força acontece por dois tipos de contração: contração concêntrica (quando a contração vence a resistência e acontece um movimento levantar o braço) e contração excêntrica (quando a contração esta estática sem movimento, sustentar o braço aberto por exemplo). Por isso os corpos dos atores de Meyerhold são sempre definidos mas não aparentemente fortes.
Como resistência entra uma outra discussão de Meyerhold sobre seu trabalho após a revolução, a partir da teoria do teylorismo, que é o mínimo de gasto enérgico possível na execução do movimento, a repetição diária do exercício com a consciência corporal já discutida acima cria uma resistência muscular suficiente para o total controle muscular necessário para todo o aperfeiçoamento do trabalho do ator.
Através de toda essa percepção, meyerhold atinge seu objetivo ao permitir ao ator uma dilatação de toda a sua musculatura envolvida nesse exercício da Pedra que é o que mais temos vivenciado. Quero conhecer outros exercícios para saber se são explorados outros grupos musculares, pois apesar de serem muito os grupos musculares recrutados no exercício da Pedra, ainda não são todos os necessários para um ator considerar que tem a destreza essencial para todos os seus movimentos cênicos.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Teatro de Maquinaria é um coletivo formado por artistas com sólida experiência profissional em diversos campos das Artes, em especial o Teatro, quais se encontram atualmente residindo na cidade do Rio de Janeiro. No momento, o coletivo propõe a assimilação artesanal das maquinarias disponíveis nas linguagens do mundo contemporâneo como ferramenta de criação artística, uma analogia com a poética da produção audiovisual e digital.

Crepúsculo aos Pés da Pedra


É um projeto de montagem teatral a partir do clássico filme estadunidense Sunset Boulevard (1950), traduzido para o português por Crepúsculo dos Deuses. O processo foi iniciado em agosto de 2010 e propõe a criação artística através de um diálogo entre as artes cênicas e as artes audiovisuais, entre o teatro e o cinema/vídeo. Partindo, principalmente, dos temas, elementos e procedimentos da sétima arte para a construção de sua linguagem teatral.

Cidade em Fotodrama


Como parte do processo de montagem do projeto Crepúsculo aos Pés da Pedra, o Teatro de Maquinaria amplia seu campo de atuação através da intervenção urbana. Nesse caso, o objetivo é promover um dialogo com a rua, a cidade e seus personagens, potencializando a experiência pública dos atores na experimentação dos mecanismos artesanais descobertos no processo artístico do espetáculo.

Fabricio Moser